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ENTREVISTA RICARDO VALE Terceira parte “O Polo de Cinema era uma ficção. Lei do Silêncio fechou dois


Ricardo Vale e Rollemberg

Ricardo Vale e Rodrigo Rollemberg assinam a ordem de serviço para início das obras do Caveirão , em Sobradinho II, no domingo 19 de novembro. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília


O Polo de Cinema era uma ficção. Nunca existiu. Fizeram um galpão e largaram lá. Era uma mentira - explica o deputado distrital, Ricardo Vale, nesta terceira e última parte da entrevista concedida ao jornalista José Edmar Gomes, do Folha da Serra, ao falar da invasão das terras do ex-Polo de Cinema e Vídeo do DF, que ficam em Sobradinho e têm enorme valor ecológico e imobiliário.


Vale também abordou sua luta pela alteração da Lei do Silêncio (Lei Distrital nº 4.092, de 30 de janeiro de 2008), que dispõe sobre os limites máximos de emissão de sons e ruídos na cidade e zona rural do DF.


A lei, embora pretenda defender a população do barulho, fechou, segundo o deputado, dois mil bares e afins e desempregou outros milhares de trabalhadores.

O deputado, que pretende flexibilizar os níveis de intensidade de sons, permitido pela tal lei, diz que está com dificuldade para aprovar sua proposta, devido à postura conservadora “que toma conta de Brasília e da CL”.


O distrital, que é presidente de honra do Sobradinho Esporte Clube, afirma ainda que o investimento no esporte amador deve ser feito pelo Estado. “O esporte profissional deve ser apoiado pela iniciativa privada”, diz. Ricardo, afirma que foi um bom cartola e comemora a permanência do Leão da Serra na primeira divisão do Campeonato Candango. Confira:

Pólo de Cinema

Ricardo Vale afirma que o Polo de Cinema foi apenas um barracão e nada mais


FS – Regiões próximas a Sobradinho, inclusive a área do Pólo de Cinema, vêm sofrendo invasões de sem-terra. O senhor considera invasão uma prática legítima ou um problema?


RV – O ideal é que não houvesse invasão nenhuma. O ideal é que o governo tenha política de reforma agrária, para contemplar toda gente do campo, que não tem onde produzir. Sou contra invasão de terras, mas me preocupa ver grandes áreas que não produzem, nas mãos de quem não planta um pé de alface e só especula, enquanto muita gente não tem nem onde morar.


FS – Qual a situação do DF, em relação à reforma agrária?


RV - O governo Agnelo foi muito bem neste aspecto, ele criou uns sete assentamentos que, hoje, produzem. Sem a reforma agrária, os sem-terra têm que pressionar o governo a fazê-la de alguma forma. Uma delas é a invasão, que é fruto da falta de políticas públicas. Eu não incentivo invasões, mas o DF tem áreas que podem assentar muita gente.


FS – Os movimentos sociais no DF, no entanto, só invadem áreas próximas às cidades, o que viria a causar problemas de adensamento urbano, caso regularizadas...


RV – À medida que o governo não faz a reforma agrária, eles ocupam as áreas próximas às cidades para pressionar o Estado. É uma estratégia que faz parte da luta pela reforma agrária. Como já disse, sou contra invasões, mas entendo muito bem a estratégia dos movimentos sociais. Pior fazem certos empresários, que invadem áreas nobres para especular.


FS – Por falar em especulação, a área do Polo de Cinema, que deveria ser considerada de preservação ambiental, está invadida. Qual será o futuro daquela área?


RV – O Polo de Cinema era uma ficção. Nunca existiu. Fizeram um galpão e largaram lá. Era uma mentira. Aquela área é muito boa para a agricultura, mas acho que o governo tem que providenciar outro local para o pessoal que ocupou lá, para eles criarem suas famílias e deixar aquele local preservado.


FS - A preocupação é que, com a invasão, possa haver ocupação sem planejamento, em áreas de preservação, e surgir um Sobradinho III, sem a mínima infraestrutura...


RV – Vou te fazer uma pergunta e quero que você pulique sua resposta: o que você prefere, que a reforma agrária transforme aquela área em área de agricultura familiar produtiva ou que coloquem lá, um aeroporto, com uma série de edificações?


FS – Embora o entrevistado seja o senhor, vou respondê-lo em respeito a V. Exa. Eu prefiro que o local permaneça preservado, porque é uma área ambiental importantíssima, que abriga nascentes, que alimentam o Ribeirão Sobradinho. Pode parecer absurdo para alguns, mas quem mora em Sobradinho ainda vai beber da água do ribeirão, porque os demais mananciais do DF estão secando. Se há falta d´água hoje em Sobradinho, temos que preservar as nascentes que vêm desta caixa d’água da região do Polo de Cinema, para garantir água para o futuro, porque os governos não governam para o futuro, mal pensam no presente.


RV – Eu também prefiro que o local seja preservado, mas entre colocar um aeroporto, criar um Sobradinho III, eu opto pela agricultura familiar, pois assim o meio ambiente será respeitado.


FS – Qual sua visão da reforma agrária no país? Por que, na maioria das vezes, os resultados não aparecem?


RV – Eu sou um defensor da reforma agrária. A terra é para plantar e produzir não para especular. O Brasil possui essa enorme quantidade de terra e, até hoje, não fez a reforma agrária, enquanto a China, EUA, Rússia e até a Itália já a fizeram e evoluíram. O Brasil tem muita terra improdutiva na mão de quem não planta nem um pé de alface e quer a terra só pra especular. Eu espero que venha uma RA séria, que possa acolher as famílias que estão sofrendo nas periferias das grandes cidades.


FS – O que uma família precisa, para produzir e prosperar, após receber um lote num assentamento ?


RV – Precisa de linhas de crédito. No Brasil, só o grande latifúndio tem crédito. O Estado prioriza o latifúndio. Quando você passa na região do PADF, só vê máquinas e poucos trabalhadores. Temos que inverter essa ordem. Ao invés de financiar o latifúndio, o Estado deveria financiar agricultura familiar. O governo só subsidia os grandes, os poderosos.


FS- Como anda a tramitação da mudança da Lei do Silêncio?


RV – Estou um pouco desanimado. Os que não gostam de cultura, os conservadores estão conseguindo vencer o debate na Câmara. Os movimentos culturais e os donos dos bares e restaurantes não são organizados o suficiente para enfrentar essa gente. Como a Câmara é conservadora, a tendência é que eu não consiga alterar essa lei, o que é terrível para a cultura, para a geração de emprego e renda. Mais de dois mil estabelecimentos foram fechados, inclusive igrejas, deixando garçons, músicos cozinheiros e cantores sem emprego. Mas eu vou continuar lutando para alterar essa lei.


FS - O senhor acredita em Sobradinho como Cidade-Arte?


RV – Acredito. Tanto acredito que propus emenda em prol da Associação dos Artistas de Sobradinho e Entorno (Artise) para realização do Projeto Arte na Praça. Tenho destinado inúmeros recursos para a área cultural, nas diversas cidades do DF. Devo ser o parlamentar que mais apoia a cultura e tenho lutado sistematicamente contra a onda conservadora que está invadindo a cidade.


FS –Como o senhor está vendo o andamento do Projeto Arte na Praça?


RV- Estou feliz com o projeto, que é um piloto, que gostaria de levar para outras cidades, mas tenho encontrado resistência. É fundamental que o projeto seja bem gerenciado para que as coisas deem certo. Muita gente acha que não se deveria investir em cultura, em época de crise, mas eu acredito que investir em cultura e esporte é investir em cidadania.


FS – O senhor foi presidente do Sobradinho Esporte Clube e, atualmente, é seu presidente de honra. Tirou a equipe da lama e a colocou na primeira divisão, onde ela permanece entre as quatro melhores do DF. O senhor se considera um bom cartola?


RV – Considero. O futebol profissional é um segmento esportivo que dá retorno para quem investe. As grandes cimenteiras de Sobradinho não acreditaram no projeto, mas a maior universidade particular do DF acreditou e teve excelente retorno e ganhos de imagem.

Sobradinho Esporte Clube

Sobradinho Esporte Clube vence o Santa Maria na segunda partida da semifinal do Candangão 2017.Ricardo Vale afirma que futebol profissional deve ser patrocinado pela iniciativa privada.Foto: Milo Rezende / SEC


FS – Em Brasília, é melhor investir no esporte amador ou no profissional?


RV – O investimento no esporte amador, que é de médio e longo prazos, deve ser feito pelo Estado. Já o esporte profissional deve ser apoiado pela iniciativa privada. Eu tirei o Sobradinho daquela situação, construindo uma parceria com o UniCeub, que teve um retorno gigantesco, do ponto de vista de marketing, com a imagem da instituição estampada nas diversas mídias. Assim, o Sobradinho se tornou grande de novo, está na elite do Candangão, entre os quatro primeiros. Em breve, será o campeão de Brasília.


FS – Está confirmada a participação da equipe na Copa Verde, ano que vem?


RV – Sim. Vamos fazer uma grande festa para isso. O Túlio Guerreiro, atual presidente, que admiro muito, está construindo uma equipe jovem e eficaz, que poderá ser campeã de Brasília, em 2018.


FS – O que o mandato de Ricardo Vale tem trazido para Sobradinho, em termos de conquistas sociais?


RV – Além de verbas para recuperação da Feira Modelo, de escolas, melhorar as Unidades Básicas de Saúde, iluminação, realizar o projeto Arte na Praça e melhorar o campo Caveirão em Sobradinho II; a mais importante ação do mandato é a luta contra o preconceito, contra o ódio, a intolerância e a discriminação. Como presidente da Comissão de Direitos Humanos, tenho viso ataques frontais à cultura, às minorias, à comunidade GLS, negros e pobres do DF. O que mais me deixa feliz é ser um contraponto a essa onda conservadora que invade Brasília.


FS - A segurança pública não funciona, hospitais não são garantia de atendimento, o transporte é caro e ruim, o professor é agredido em sala de aula. Tudo isso é uma questão de direitos humanos que o poder público não garante. Aonde vamos parar?


RV – Tenho trabalhado muito contra tudo isso, mas sei que os direitos humanos não estão sendo garantidos. Seja o de ir e vir; o direito à saúde, ao transporte, à moradia, à cultura e ao esporte. Tudo isso está sendo negligenciado pelo Estado. Não temos perspectiva nenhuma e, quando surge alguém como eu, que luta por estas garantias, é taxado de louco. Tudo está invertido. Mas o cidadão do DF pode contar comigo como parlamentar e presidente da Comissão de Direitos Humanos. Estou na Câmara para defender os direitos da população. Podem me procurar.


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